segunda-feira, 22 de agosto de 2016

BATMAN VS CROCODILO: O ALERTA SUBLIMINAR DEIXADO PARA OS DIAS ATUAIS.

 



Recentemente parei para assistir a um dos episódios daquele que, sem dúvida, é um de meus seriados preferidos: Batman- A Série Animada: um desenho que foi exibido durante a década de 1990 e que, no Brasil, já passou por SBT e Record. 

Para quem curte o personagem, esta produção não é novidade. Trata-se daquela que, até hoje, é considerada a melhor adaptação já feita com o Homem Morcego fora dos quadrinhos; além de ser tida pela maioria esmagadora do público como a versão definitiva do personagem. Entretanto, seu sucesso não foi à toa. Cada um de seus episódios, longe de ser um desenho animado como outro qualquer; foi escrito de maneira a cativar não somente as crianças, mas também seus pais. Dessa forma, apresentam tramas dignas de filmes. "Os episódios eram pensados não como apenas mais um desenho das manhãs de sábado, e sim como curta-metragens."- declarou, certa vez, seu criador Bruce Timm. Do método de dublagem à opção por um estilo retrô passando pela sobriedade de suas narrativas, Batman- A Série Animada inovou em diversas frentes, vindo a ser a única animação televisiva da história a receber 6 indicações ao prêmio Emmy Awards (o oscar da TV americana.), das quais venceu 4. 

Estou frisando a qualidade desta animação para que, após a análise que se seguirá, ninguém diga que estou vendo chifre em crina de cavalo, afinal, estou falando de um desenho à frente de sua época por explorar o universo de um super-herói de maneira mais realista (como, diga-se de passagem, somente 10 anos depois a indústria cinematográfica começaria a fazer.), mas também por levantar certas temáticas e elementos que, nos anos 90, eram incomuns em programas infantis (apenas para mencionar um exemplo básico, Batman- A Série Animada, foi o primeiro desenho onde as armas de fogo disparavam balas de verdade, ao invés do tradicional raio laser muito visto no Comandos em Ação.). Definitivamente, a mensagem trazida no roteiro que irei comentar (praticamente uma profecia), não pode ter sido "obra do acaso". A equipe criativa por trás desta produção sabia muito bem os rumos que o planeta estava tomando. Coincidência ou não, apesar do sucesso estrondoso que foi este seriado, Bruce Timm foi afastado das animações da Warner e recontratado para a função somente em 2015 após os sucessivos fracassos da empresa neste segmento e a consequente pressão dos fãs pela volta do animador e roteirista.

Enfim, vamos ao episódio em questão. Ele se chama Show à Parte e, como núcleo narrativo, mostra a perseguição de Batman a um de seus arqui-inimigos, o Crocodilo (chamado nesta série só de "Croc".). O mesmo Crocodilo, por sinal, que acaba de ser visto nos cinemas no longa Esquadrão Suicida no qual vários vilões, incluindo ele; são os mocinhos da vez atendendo, assim, à mensagem de desconstrução do paradigma heroico e inversão de papéis que Hollywood vem metralhando incansavelmente sobre a juventude (como exemplos, cito Megamente, Meu Malvado Favorito, Detona Ralph, Guardiões da GaláxiaDescendentes e Malévola.). Mas, voltando a Show à Parte, durante a caçada implacável do Homem Morcego, Croc consegue despistar seu oponente e acaba encontrando uma família de ex-profissionais de circo que, logo de cara, o adotam em sua fazenda crendo ser ele um escravo fugitivo de algum circo.

 

   ATENÇÃO: A PARTIR DAQUI, IREI COMENTAR ABERTAMENTE SOBRE A TRAMA. PORTANTO, PARA QUE VOCÊ, LEITOR, PROSSIGA; A MELHOR COISA A FAZER É CLICAR EM UM DOS LINKS ABAIXO E ASSISTIR AO EPISÓDIO COMPLETO (SÃO APENAS 20 MINUTOS.), DO CONTRÁRIO PODEREI ESTAR ESTRAGANDO A EXPERIÊNCIA.


   OPÇÃO 1   



   OPÇÃO 2




   OPÇÃO 3




Ao descobrir que o grupo tem uma rica quantia de dinheiro guardada, Croc, a despeito de todo carinho e amor recebidos, começa a se coçar para pegar a grana e ir embora; porém seus planos são frustrados, para variar, pelo Batman, que acaba descobrindo a fazenda e indo até lá capturar o criminoso. Não dando ouvidos aos alertas do vigilante, os circenses o derrubam e prendem numa jaula.

Num mundo governado pelo politicamente correto e pela ideia fixa de que "o diferente deve ser aceito a todo custo", Show à Parte prova que, num passado não muito distante, a cultura pop era muito mais saudável mentalmente. Particularmente neste episódio, acompanhamos o que pode acontecer quando, movidos pela obsessão deliberada do combate ao preconceito, incorporamos o exótico ao nosso cotidiano desprovidos da mínima precaução ou controle. Por serem pessoas bizarras por fora, entretanto lindas por dentro, os fazendeiros circenses cometeram o terrível erro de transformarem isso numa regra que pudesse ser aplicada a qualquer outro ser que também apresentasse anomalias genéticas graves. Assim, trouxeram para seu meio um homem tão grotesco por dentro quanto o era por fora; um sujeito que, ao longo de toda a vida, teve forjada no coração a cultura da força; uma fera cujo modo de enxergar a sociedade em que vive só faz sentido se houver uma luta a ser vencida e gente a ser subjugada.

No fim do episódio, temos um diálogo, ao meu ver, antológico. Ao ser indagado pelo menino-foca sobre a razão de ter agido de tal maneira, uma vez que eles estavam dispostos a ajudá-lo, o vilão dá um "tapa sem mão" dizendo: "Você disse que eu poderia ser eu mesmo, se lembra? Pois eu acho que foi isso que fiz: fui eu mesmo." Em outras palavras, o Crocodilo lançou a culpa de tudo nas costas de seus anfitriões, ou seja, daqueles que o receberam irrestritamente sem terem o bom senso como bússola, e sim o coração que, segundo Jeremias 17.9, é mais enganoso do que todas as coisas. Os circenses abraçaram Croc sem averiguarem adequadamente suas palavras e, principalmente, seu passado. O resultado não poderia ser outro: o monstro se utilizou dos recursos e armas deles mesmos para prendê-los e, em seguida, tentar matá-los (aqui, vemos que é possível falar sobre violência com o público infanto-juvenil sem expor as crianças a um conteúdo explícito e apelativo, já que foi mostrado sem nenhum pudor, mas de maneira sutil, que o antagonista tencionava uma chacina.). 

Felizmente, Batman acaba salvando o dia. O problema é que nem sempre há um "Batman" para salvar as pessoas de suas escolhas movidas a idealismos repletos de amor, porém tão inteligentes ou racionais quanto os de um rato. E, quando há algum "Batman" em cena, geralmente o mesmo é tomado por "opressor" e "inimigo da paz". Aliás, não foi isso o que os circenses fizeram com o Homem Morcego? Por limitarem seu raciocínio pondo Croc no papel de injustiçado unicamente pelo fato do criminoso ter se vitimizado e de sua aparência despertar pena, os fazendeiros acabaram limitando também o espaço para a verdade. Apegaram-se demais às correntes às quais a fera estava presa esquecendo-se de que elas não passam de objetos, e nunca fatos. 

Será que boa parte do que nossa sociedade está sofrendo atualmente não é exatamente por conta disso: interpretar correntes quebradas, sempre, como um sinal de sofrimento imposto por terceiros, nunca como consequências colhidas pelos próprios atos? Até quando olharemos para correntes quebradas unicamente como sinônimo de injustiça; nunca como sinônimo de justiça?

Leandro Pereira  




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